Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo.

Eu sou pai, e meus filhos estão entrando na fase da adolescência. Estou me preparando para isso então li um livro sobre o assunto, e assim descobri que essa fase é muito importante, tanto na vida dos adolescentes como também na vida dos pais. O adolescente começa a desenvolver o seu caráter e a sua própria identidade.

Por muito tempo ele fez parte de uma família, e se identificou positiva ou negativamente com os seus pais. Mas na adolescência essa situação muda. O adolescente se desenvolve de tal maneira que quer ser mais independente, quer tomar as suas próprias decisões; ele observa a vida além da família; ele ouve músicas e assiste a filmes, onde encontra outras pessoas que servem como um modelo. Temperoriamente, o adolescente pode se identificar com uma pessoa ou com alguns aspectos de uma outra pessoa. E dessa maneira o adolescente desenvolve o seu estilo particular, guardando os elementos dos seus modelos que ele achou importantes no passado ou no presente. Então, é importante que o adolescente encontre no seu contexto social modelos adequados, que o estimulam a seguir ou imitar.

É claro que na igreja o modelo mais importante é Jesus Cristo. Ele era o mestre e o modelo dos discípulos que o seguiram; Paulo exorta os membros da igreja em Corinto dizendo (1 Cor. 11,1): Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo”. Jesus era o modelo com quem Paulo se identificava. E ele quer que os membros se identifiquem com ele mesmo e sigam o seu exemplo. Na igreja precisamos de pessoas que sigam a Jesus Cristo de tal maneira que se tornem um exemplo para os jovens e adolescentes. Um estilo de vida autêntica, que estimule os jovens a seguir seus exemplos.

Já encontrei vários jovens, durante o meu trabalho pastoral, que sentiram falta desses modelos na igreja. Eles observavam a vida dos seus pais, mas os mesmos eram crentes no dia do domingo, quando visitavam a igreja, mas durante a semana não imitavam o estilo de vida de Jesus Cristo. Os filhos observavam isso e se tornavam rebeldes; muitas vezes – sem saber – eles criaram uma identificação negativa: escolheram modelos que viviam fora da igreja.  Isso se manifestava no estilo de se vestir, nas músicas que eles ouviam e nos amigos que eles escolhiam.  Às vezes é uma fase temporária na vida de um adolescente, mas às vezes é um caminho, que o leva mais e mais à “periferia” da igreja.

Muitas vezes (não sempre!) eu –como pastor – observei isso,  porque tais jovens confusos e rebeldes  sempre procuravam os lugares na “periferia” durante o culto; bem distante do púlpito, muitas vezes bem perto da saída, como se já estivessem prontos para sair da igreja; e na maioria das vezes eles eram os primeiros a sair; em vez de se confraternizar com os irmãos ou outros jovens na igreja, saíam logo depois do culto e ficavam com o celular no ouvido, falando com outras pessoas, seus amigos de fora da igreja; não sobre o sermão que acabaram de ouvir, mas sobre a festa que houve na noite anterior.

Já notei no meu trabalho pastoral que se um jovem não se identifica com a igreja ou não encontra irmãos que podem servir como modelos de identificação, ele ou ela se afastará cada vez mais e, no final, sairá da igreja.

Isso pode acontecer em casos individuais, como com um adolescente, mas também com um grupo de pessoas.  Hoje em dia, um fato que podemos observar com tendência é que se um líder da igreja não concorda com o pastor, sai da igreja e abre outra na esquina. Ele se reúne junto com a sua família numa pequena sala e começa a sua própria igreja de acordo com o estilo dele mesmo.

O mesmo processo pode acontecer numa igreja local, que não se identifica com as decisões da sua confederação.  A confederação pode ter um caráter conservador enquanto a igreja ou a liderança da igreja tem como modelo o estilo das igrejas pentecostais. Ela quer mudanças no culto, mas as outras igrejas da confederação não estão a favor disso. Isso pode levar a uma crise, ou até rasgar a igreja em duas partes. Tal situação parece com a de um adolescente que não concorda com os seus pais; ele se veste num estilo diferente e assim manifesta que não quer seguir (completamente) a tradição deles; os pais sentem isso e observam essas mudanças com muitas preocupações.

Li recentemente também a história de um missionário holandês que experimentou isso no seu trabalho. Ele foi um missionário reformado, enviado à Papua Nova Guiné nos anos oitenta do século anterior. Ele recebeu o mandato de plantar igrejas reformadas. E um bom missionário reformado era considerado um missionário que plantaria uma igreja no exterior, que adotaria as confissões reformadas e organizaria a vida eclesiástica de acordo com o Regimento de Dordt e faria uma cópia das Formas litúrgicas, que funcionaram na Holanda por mais de três séculos.  As igrejas reformadas na Holanda se tornaram um modelo, com quais as igrejas novas no exterior se identificavam; o missionário as ensinava a imitar o estilo de vida das igrejas holandesas.  Mas num certo momento os missionários descobriram que a tradição holandesa não funcionava como na Holanda. Os indígenas tinham dificuldades com as músicas dos Salmos.  E em certos países a organização das igrejas em uma confederação não funcionava como deveria. Então, eles começaram a pensar na importância de se adaptar à situação indígena. A missão tinha que pensar na contextualização: aplicar o evangelho no contexto dos seus ouvintes.

As igrejas holandesas, como igrejas mães, ficaram preocupadas quando ouviram sobre essas mudanças no campo missionário, e logo se perguntaram: qual seria o futuro da identidade reformada?  Outros não achavam correto falar sobre a identidade reformada, mas preferiam falar sobre a identidade cristã.

Aquele missionário, olhando para trás, achou melhor se distanciar da palavra “identificação” no trabalho missionário. As igrejas missionárias no exterior não são chamadas a se identificar com as igrejas reformadas, que estão na Holanda ou no Canadá, mas devem se identificar com o ensino de Cristo e seus apóstolos, e aplicar o evangelho  no seu contexto.

Se os habitantes de uma cidade no Nordeste do Brasil chamam a igreja reformada de “igreja canadense”, nós podemos notar por um lado que a tradição do missionário canadense foi bem transmitida, mas, por outro lado, que essa igreja é considerada estranha no seu contexto brasileiro.

Como já disse no início: sou pai e quero criar os meus filhos no caminho do Senhor. Quero ser um modelo para os meus filhos; quero que eles se identifiquem comigo, mas não quero criar um clone. Sou também professor e gosto de ensinar o ensino de Cristo aos meus alunos, mas quero também que eles se identifiquem com Cristo independente de mim. Quero que eles apliquem o evangelho na sua vida. Como Paulo, quero imitadores, mas não quero clones, nem acho que é possível criá-los, porque o nosso ensino é imperfeito e pecaminoso e a vida dos meus filhos ou dos meus alunos nunca é igual a minha.

Mas quero que os meus filhos, alunos e os membros da congregação se identifiquem com Cristo e imitem o estilo de vida dele, porque quem vive assim receberá  a coroa da glória de Jesus. Jesus mesmo falou sobre isso por meio de uma parábola do grande julgamento (Mt. 25, 31-46). No final Jesus voltará e se assentará no trono da sua glória, e separará as pessoas que estão em frente dele. Os cristãos à sua direita e os ímpios à sua esquerda. Jesus reconhecerá as pessoas que se identificavam com Ele e imitavam o seu estilo de vida. Elas ajudaram as pessoas como se fossem Jesus. Jesus mesmo diz: “EU tive fome e me destes de comer”. Mas os justos se surpreendem e perguntam: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? E Jesus lhes dirá: Em verdade vos afirmo, que sempre que o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes!

Jesus se identificará como os seus pequeninos irmãos que estavam como fome, e com os seus grandes irmãos que deram ajuda. Ele os reconhecerá: eles têm o mesmo amor que ele tem. Eles são os verdadeiros discípulos que imitavam a vida de Jesus.